Onde
estão os poetas, onde está a poesia? Em quantos cadernos se escondem os
pensamentos íntimos de anônimos? Existe poesia nas gavetas. Existe poesia latente
nos pensamentos incapazes de se fazerem letra. Mas também se leva literatura
para a internet e, sabemos, para livros publicados de forma independente ou não.
Versos estão por ai. Novos e veteranos acreditam, fazem e insistem.
Também se encontra poesia em letras
de música. Excluídos os sucessos da estação tem muita coisa boa fora da grande
audiência. É um dos espaços da poesia, ali ela é essencial. E por essencial,
merece aparecer também na forma impressa. Chamo a atenção daquilo que gosto (do
pouco que conheço).
Aqui, trecho de “A Balada do Perdedor”, de Marcelo Nova:
“A noite parece tão promissora, luzes por todo lugar
Decotes, sorrisos, sussurros: cheiro de conquista no ar
E eu aqui sozinho tentando fazer esse isqueiro funcionar
Parando em frente à porta do paraíso, mas sem vontade de entrar
Os astros cheiram o pó das estrelas e as trombetas estão
soando
É no céu que se morre de tédio, os anjos estavam blefando
Eu conheci a mais bela vingança, vestida de noiva no altar
Parado em frente à porta do paraíso, mas sem vontade de entrar”
Nem tudo é tão claro. Natural: é poesia, aberta à interpretação.
Lula Côrtes em “O clone” (parcial):
“Fica difícil
Porque isso pra mim não é só um ofício
Eu podia ser político e fazer comício
Mas prefiro dar uma bola e vir cantar
Eu falo tudo
Dou minha opinião sobre esse mundo
Às vezes de tão triste eu vou mais fundo
Exponho a minha alma na bandeja”
Com a “Alma na bandeja”: é assim que o poeta fala de si,
ou de seu personagem.
Trecho de “Não É Céu”, de Vitor Ramil
“Não é céu sobre nós
Dele essa noite não veio
E muito menos vai o dia chegar
Se chegar, não é sol
Quem sabe a luz de um cigarro
Que desaba do vigésimo andar”
Alguma
catástrofe profetizada por Vitor Ramil é o espaço onde se dá o apelo para que a
amada fique, não vá embora.
No momento do
menor esforço, do ócio puro, sento e aperto o “Power”. Uma hora em frente ao
rádio pode trazer agradável surpresa. E em tempos de miserabilidade artística e
de pobres rotinas que o horário nobre acentua, vale a pena vasculhar o rádio na
busca de algum sopro de vida criativa.