domingo, 19 de abril de 2015

A ameaça



Sob o viaduto, a moradora de rua lê. Reconheço a capa do livro. O fato causou espanto, não esperava tal cena.
Num recorte do panorama literário, constato: O escritor não sobrevive da escrita porque seu leitor é um despossuído. Ampliando a realidade, não é bem assim. Algum escritor vive da escrita, existem leitores, poucos. Reposta a verdade, a situação ainda é catastrófica.
Em ambiente ficcional, uma cidade qualquer, fiscais interpelam o pintor e o ameaçam: não pode vender quadros na rua. Não o ajudam a desenvolver ou negociar sua arte e ainda querem confisca-la, levá-la para algum depósito. Eles têm razão, regras são regras. E são essas que garantem o pagamento de impostos, protegendo a obesidade governamental. O artista que se vire.
            Mas, por que não acordar? Parar de esperar, esquecer, não desejar ser abraçado pelo sistema governamental. Recusar editais, espaços oficiais, negar-se aos formulários, às descrições supérfluas acerca de sua arte. Necessário mostrar-se convicto da sua condição de artista.
            Espelhar-se no artista de rua que pinta muros porque é compelido, sem remuneração. Ele cria seus espaços. Ignora as proibições e inventa como respirar.
            Particularmente prefiro a INTERNET. Ali ainda se pode colocar arte. Não tem fiscais tentando confiscar a criatividade.

Por outro lado, nada mais revolucionário que o artista esquecer as oportunidades governamentais, dizer e fazer o que bem entende, gratuitamente. Assim seremos fortes, respeitados. O não querer será nossa liberdade. E a liberdade é ameaçadora.

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