sábado, 8 de setembro de 2012

Monocultura e diversidade



Monocultura: plantação extensiva de um só produto agrícola. Sinônimo de grande extensão de terra, muita mecanização e pouca gente trabalhando, destruição de mata nativa, erosão, assoreamento... Perigo para a vida.
Desmatamento e comercialização da madeira: mão-de-obra mal remunerada, destruição de mata nativa, erosão, assoreamento... Perigo para a vida.
Aí entrou a ecologia, desenvolvida a partir de idéias de preservação, de consciência da importância da biodiversidade, de amor à natureza.
E o que é a nova monocultura?
O modo de vida de uma comunidade, seus costumes, sua cultura; tudo ameaçado pela programação que entra nos lares e que diz (de forma sutil ou nem tanto) como se deve viver.
A nova monocultura é sinônimo de grande produção e consumo de uma pequena quantidade de itens: existe um tipo de vida a ser copiado, existe a música do momento, existe a exploração do corpo e... da lágrima. Se algum repórter lhe perguntar o que você acha, digamos... do nome da sua rua, dê-lhe qualquer resposta, pode ser cômica, desaforada, cínica... mas responda com lágrimas nos olhos. Ele irá repetir a pergunta para dezenas de pessoas, mas a sua imagem é a que será explorada.
A nova monocultura, com a sua grande produção, entope as vias por onde deveriam fluir as diversas manifestações populares e intelectuais, sufoca e destrói a diversidade. Ela usa o que é comum (as concessões do Estado) como se fosse seu, particularizando os lucros mas socializando os danos ao patrimônio cultural.
Precisamos lutar pela manutenção da diversidade de opiniões, pelo direito dos gêneros musicais, literários, cênicos, etc. de continuarem a existir. A diversidade é imprescindível à vida.

sábado, 28 de julho de 2012

As Poesias


          Onde estão os poetas, onde está a poesia? Em quantos cadernos se escondem os pensamentos íntimos de anônimos? Existe poesia nas gavetas. Existe poesia latente nos pensamentos incapazes de se fazerem letra. Mas também se leva literatura para a internet e, sabemos, para livros publicados de forma independente ou não. Versos estão por ai. Novos e veteranos acreditam, fazem e insistem.
            Também se encontra poesia em letras de música. Excluídos os sucessos da estação tem muita coisa boa fora da grande audiência. É um dos espaços da poesia, ali ela é essencial. E por essencial, merece aparecer também na forma impressa. Chamo a atenção daquilo que gosto (do pouco que conheço).
           
Aqui, trecho de “A Balada do Perdedor”, de Marcelo Nova:
“A noite parece tão promissora, luzes por todo lugar
Decotes, sorrisos, sussurros: cheiro de conquista no ar
E eu aqui sozinho tentando fazer esse isqueiro funcionar
Parando em frente à porta do paraíso, mas sem vontade de entrar
Os astros cheiram o pó das estrelas e as trombetas estão soando
É no céu que se morre de tédio, os anjos estavam blefando
Eu conheci a mais bela vingança, vestida de noiva no altar
Parado em frente à porta do paraíso, mas sem vontade de entrar”

Nem tudo é tão claro. Natural: é poesia, aberta à interpretação.

Lula Côrtes em “O clone” (parcial):
“Fica difícil
Porque isso pra mim não é só um ofício
Eu podia ser político e fazer comício
Mas prefiro dar uma bola e vir cantar
Eu falo tudo
Dou minha opinião sobre esse mundo
Às vezes de tão triste eu vou mais fundo
Exponho a minha alma na bandeja”

Com a “Alma na bandeja”: é assim que o poeta fala de si, ou de seu personagem.

Trecho de “Não É Céu”, de Vitor Ramil

“Não é céu sobre nós
Dele essa noite não veio
E muito menos vai o dia chegar

Se chegar, não é sol
Quem sabe a luz de um cigarro
Que desaba do vigésimo andar”


            Alguma catástrofe profetizada por Vitor Ramil é o espaço onde se dá o apelo para que a amada fique, não vá embora.
            No momento do menor esforço, do ócio puro, sento e aperto o “Power”. Uma hora em frente ao rádio pode trazer agradável surpresa. E em tempos de miserabilidade artística e de pobres rotinas que o horário nobre acentua, vale a pena vasculhar o rádio na busca de algum sopro de vida criativa.